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FESTAS, TELESPECTADORES E GRANDES PIRATAS: para onde caminhamos?


Aproximamo-nos do princípio do Verão, e também do final de uma temporada de festas da sound6team: é uma boa altura para parar um pouco a pensar, e fazer o balanço daquilo que se fez este ano, de como o mundo foi mudando à nossa volta, e daquilo que se quer fazer no futuro.

O que são as festas? Que propósito servem no contexto global das nossas vidas e do mundo? Segundo Rousseau, como reza um texto com que muitos de vocês já devem ter levado umas quantas vezes ;) – mas que me vejo na necessidade de voltar a citar – “a festa permite a uma sociedade dar-se a ela mesma, e levar cada um dos seus membros a consumir a substancia colectiva”. Na festa, os espectadores são também actores, contribuindo de uma forma singular e única para o desenrolar da situação: é um momento de troca, em que, ao contrário do “fenómeno teatral propriamente dito”, se gera uma “dimensão de participação e integração.”

Segundo Mark Kelsey, a festa deve ser um veículo para nos exprimirmos, para envolver e deixar-se envolver, para nos divertirmos, para amar, para sermos vistos e aceites, para sentir e para participar activamente: “um espaço para evoluirmos emocional e espiritualmente, ao termos a possibilidade de ser quem realmente somos – e quem realmente podemos ser.”

Numa sociedade quase totalmente orientada por meios de comunicação tiranos, em que o indivíduo é transformado em espectador - em consumidor passivo e indefeso de informação previamente seleccionada, preparada e manipulada segundo fins e interesses específicos – torna-se extremamente necessário e de uma importância vital a promoção de estruturas e eventos em que o indivíduo seja participante activo, em que este seja liberado da sua triste condição de telespectador, reconquistando assim a sua dimensão de actor e interlocutor. Cabe-nos a nós, produtores de eventos, criar as estruturas ou condições que possibilitem esta troca, esta reconquista de um lugar activo.

Mas a questão não termina aqui: este “lugar activo” de interlocutor e participante implica também uma atitude de responsabilidade: se estamos todos e cada um de nós ao leme do barco a definir “as regras do jogo”, há que fazê-lo numa base de amor e respeito, e levar o barco a bom porto.

Surge-nos aqui um problema, que é o de saber se tal coisa é possível dentro do sistema de funcionamento da noite e dos clubes nocturnos - o sistema do consumo mínimo, dos porteiros, dos cachés, das percentagens, dos cartões - visto que este sistema é apenas um subsistema dentro de outro maior que muitos pretendemos combater ou iludir, mas onde facilmente caímos, iludidos.

Uma possível resposta está na utilização de espaços “alternativos”. Infelizmente este é o tipo de espaços que a lei pretende abolir, porque neles são as nossas regras que prevalecem, o que significa uma perda de controle - e de lucro – por parte dos piratas do capital. E isso não pode ser. De modo que acabaram-se as fogueiras na praia e as festas em casa dos amigos: se querem respirar a partir das dez da noite, tem que ser nos locais de lazer previstos e seleccionados por esses grandes piratas, dentro dos limites por eles traçados para nosso conforto e segurança. E de preferência a pagar caro, claro.

Estas circunstancias limitam fortemente o campo de acção e as possibilidades das pessoas envolvidas na criação de eventos, e limitam também a capacidade de expressão e de participação activa daqueles que os frequentam, além de contribuir para um clima de mercantilismo e exploração, em detrimento do referido - e utópico? - ambiente de responsabilidade e respeito.

A festa é uma resposta directa e uma fuga à merda com que querem preencher as nossas vidas: não deixemos que seja essa merda a definir e a orientar as nossas festas; não deixemos - por uma vez - que diversão seja sinónimo de manipulação e alienação.



They can stop the party, but they can’t stop the future. - Geoff White



Alguns links:

TAZ @ fusionanomaly
Free Music Philosophy @ fusionanomaly
Raves & TAZ @ CMI Brasil
Hakim Bey @ hermetic
The Right to Party @ fusionanomalog



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